Na edição de primavera da Philos apresentaremos um especial com cinco poemas do artista colombiano Luis Varela. Os textos são parte de seu livro Tomates, publicado pela Entre Ríos Ediciones, no ano passado. E aqui você lê com exclusividade uma prévia com três poemas do artista na mostra de poesia neolatina. As traduções são de Ellen Maria Martins de Vasconcellos e obras de Rodrigo Braga.

Hacia una colina

Antes del amanecer
llevan la primera vaca al matadero.

Si estás cerca, allá en Campo Alegre,
escuchas el chorro de agua en la nuca de la vaca,
un chorro fino que tranquiliza los nervios
antes del golpe
                  y el derrumbe.

¿Quién no lo reconoce?
                  ¿Quién no lo ha sentido?

Las demás vacas que van en fila,
hacia una colina donde todos
tendremos que llegar,
inician un rezo suave,
mientras la neblina las bendice
y les acaricia el lomo. 

Aquel coro imperceptible, absurdo, aterrador,
                  estrecha la vida en su final
                                    y el brote de la primera luz.

A uma colina

Antes do amanhecer
levam a primeira vaca ao matadouro.

Se estiver próximo, ali do Campo Alegre,
vai escutar o escorrer da água na nuca da vaca,
uma cachoeira fina que tranquiliza os nervos
antes do golpe
                e da queda.

Que não o reconhece?
Quem nunca o sentiu?

As outras vacas que vão em fila,
em direção a uma colina onde todos
teremos que chegar,
iniciam uma oração baixinha,
enquanto a neblina as benze
e as acaricia o lombo. 

Aquele coro imperceptível, absurdo, aterrador,
                    avizinha a vida em seu final
                                     ao brotar da primeira luz.

Rodrigo Braga, O ovo que vê (2020)

Que brillen sus manos

Mi madre llamó para contarme
que se había soñado en una fiesta.
Una voz le dijo
que mi abuelo estaba achantado,
pero no supo decirle
dónde estaba.
Este domingo ofrecerán una misa por él.

Mi abuelo nos llevaba los miércoles
a comer pescado
con la mano.
Despacio, y en silencio, le quitábamos
las espinas, las juntábamos en un mismo plato
como si estuviéramos acumulando,
con cuidado,
el dolor.

Hoy te lo digo, amá,
donde sea que esté mi abuelo
espero que brillen sus manos
como si hubiera comido pescado.

Que brilhem suas mãos

Minha mãe me chamou para contar
que no sonho estava em uma festa.
Lá, uma voz lhe disse
que meu avô estava encurralado,
mas não soube dizer
onde ele estava.
Este domingo vão rezar uma missa para ele.
Meu avô nos levava às quartas
a comer peixe
com a mão.
Lento, e em silêncio, tirávamos
as espinhas, as amontoávamos em um mesmo prato
como se estivéssemos acumulando,
com cuidado,
a dor.

Hoje digo, mãe,
onde quer que esteja o avô
espero que brilhem suas mãos
como se tivesse comido peixe.

Rodrigo Braga (2023)

Nidos

La paloma lleva en su pico
una ramita, liviana como un trazo en el aire
de tinta negra.
En el balcón refuerza su nido
con los cabellos dejados por la vecina
después de peinarse al sol.

Me levanté temprano, preparé café y estuve atento
al crecimiento del malestar en mi pecho, un círculo
que se angosta y se crispa hasta hacerse un lecho.

Ninhos

A pombinha leva em seu bico
uma folhinha, leve como um traço no ar
de tinta preta.
Na varanda reforça seu ninho
com os fios de cabelos abandonados pela vizinha
depois de se pentear ao sol.

Levantei cedo, preparei um café e estive atento
ao crescimento do mal-estar em meu peito, um círculo
que se estreita e se contrai até tornar-se um leito.


Luis Varela (Cali, Colombia – 1987). Tomates (Entre Ríos Ediciones, 2022) é seu primeiro poemário. Graças à organização foundintranslation, seus poemas foram traduzidos ao alemão e publicados posteriormente em revistas como Signaturen (Munich, Alemania) e Mosaik (Salzburgo, Austria). Participou de diferentes leituras públicas, entre elas, a Hafen Lesung, um evento internacional e multilíngue com sede em Hamburgo.

Ellen Maria Martins de Vasconcellos é Doutoranda em Letras (2018-2024) pela da Universidade de São Paulo (USP) com bolsa CAPES-Sandwich na Universidade NOVA de Lisboa. Mestra em Letras com Bolsa FAPESP pela USP (2013-2016) no Departamento de Letras Modernas. Bacharel e Licenciada em Letras português e espanhol também pela USP (2006-2012), com três intercâmbios de bolsa integral para Salamanca (Espanha, 2009), Buenos Aires (Argentina, 2010) e Guadalajara (México, 2012). É tradutora literária e traduziu autores como César Vallejo, Ben Lerner, Sara Gallardo, Aníbal Quijano, Fernanda Trías, Romina Paula, Natalia Litvinova, Carina Sedevich entre outres. É autora dos livros de poemas “Gravidade” (2018) e “Chacharitas & gambuzinos” (2015), edição bilíngue, ambos pela Editora Patuá.


Descubra mais sobre Philos

Assine para receber os posts mais recentes por e-mail.

Publicado por:Philos

A revista das latinidades

O que você achou dessa leitura?